segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pão-de-poesia

Era uma meia dúzia de jovens extasiados, exalando o frescor das primeiras semanas de aula na faculdade de artes. Eles estavam estudando arte e isso, por si só, já era extasiante demais. Empunhavam poemas líricos e caminhavam em direção a Praia Vermelha, ouriçados com o momento que lhes aguardava: entregar suas palavras tão preciosas a pessoas desconhecidas, despreocupadas, despreparadas, desesperadas - ou não. Alguns ensaiavam a performance durante a caminhada, enquanto outros liam em voz baixa e havia até mesmo quem se distraísse com outros assuntos. Chegaram a escadaria principal do Pão-de-Açúcar. Uma turma de turistas saía, mas o número não era suficiente para o que eles queriam. Posicionaram-se nos degraus e aguardaram o próximo bondinho, que cuspiu porta a fora cerca de oitenta pessoas. Jovens, senhoras, crianças, famílias, brasileiros, europeus, asiáticos. Tinha pra todos os gostos. Era o momento ideal. Atacaram, com suas vozes juvenis e seus versos sonoros. Atiraram versos, olhares e sorrisos a todos que passaram. Aos que passaram sorrindo, aos que passaram inertes, aos que passaram fotografando, aos que brincaram e aos que não levaram muito a sério. Em meio ao bombardeio poético, uma pessoa parou, bem em frente a um deles. A partir de agora, escrevo em primeira pessoa e me cabe o lirismo da situação: Em meio ao bombardeio poético, ela, que eu não sabia o nome, que vinha não sei de onde e que ia pra qualquer lugar, parou sobre os meus versos, sob a minha voz e pôs-se a me escutar. Os outros passaram, os outros voaram, mas ela pousou. E os meus versos que ainda não faziam sentido pra mim, passaram a fazer sentido pro mundo, ao atravessarem a alma de uma desconhecida.


VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=MnUXCLV20o0

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